5.19.2010

Jesus ama os gays


Tenho dito que, desde que me entendo por gente, nunca se discutiu tanto os direitos dos homossexuais como em 2010. Só este ano, no âmbito jurídico, o STF permitiu a adoção de filhos por casais gays, o Itamaraty passou a conceder passaportes diplomáticos para companheiros de servidores homossexuais e tramita na Câmara uma lei que condena a homofobia. Já na mídia, a Rede Globo de Televisão, a mais assistida do país, colocou em horário nobre três homossexuais no reality show Big Brother Brasil, a Revista Veja, a mais lida, estampou em sua penúltima capa os jovens que, cada vez mais cedo, saem do armário com o apoio dos pais. Até mesmo o cantor Ricky Martin, ídolo pop, resolveu assumir sua condição publicamente. Fora isso, outros programas de televisão e revistas de educação têm dado destaque ao assunto. Não discutem as causas da homossexualidade, nem se é escolha, condição ou parte da genética de cada indivíduo. Mas cada vez mais apontam para a necessidade do país igualar os direitos daqueles que optaram por viver e compartilhar a vida com outra pessoa do mesmo sexo.

Muitas escolas públicas e particulares já trabalham o tema abertamente. Aliás, desde 2004, o Governo Federal sustenta o Programa Brasil sem Homofobia e, em Belo Horizonte, o Projeto Educação sem Homofobia insere-se no âmbito da Formação de Profissionais da Educação para a Promoção da Cultura de Reconhecimento da Diversidade Sexual e da Igualdade de Gênero. Belo Horizonte, aliás, é a primeira capital brasileira a discutir e adotar o uso do nome social de travestis e transexuais nos registros escolares. A UFMG também realiza todos os anos a semana da diversidade sexual, com palestras e debates sobre o assunto.

Mas o que acontece com as escolas religiosas? Responsáveis pela formação da maior parte dos filhos da classe média alta, as elas formam a futura elite do Brasil e pecam na abordagem de alguns temas que hoje já fazem parte do cotidiano de muita gente. Muitas vezes presas a valores e dogmas que não evoluem com o tempo, elas preferem se omitir quando este é o assunto. Não que façam isto com todos os marginalizados. Por serem religiosas, há o olhar cristão para o social. Não com entendimento sistêmico de organização da nossa sociedade, mas cristão. A Bíblia dá ênfase aos marginalizados e cita amar ao próximo como a si mesmo, mas quase não cita os homossexuais. Os pobres, por exemplo, são assistidos por vários programas sociais mantidos por instituições religiosas e filantrópicas. O racismo e a questão indígena também são debatidos em algumas escolas. Muitas delas, inclusive, ajudam aldeias indígenas e quilombolas. Mas isto não acontece com os homossexuais.

Muitos alunos sofreram bullying na infância e na adolescência dentro dos próprios muros da instituição. E muitos continuam a sofrer. E o tema continua velado. Hoje em dia, não se discute mudar o indivíduo para que ele seja aceito pelo meio. O que se discute (e o que é mais difícil em se tratando de práticas pedagógicas) é de mudar o meio para aceitar o indivíduo “diferente”. Talvez por medo de repúdio dos pais dos alunos, talvez por preconceito vindo dos próprios profissionais, talvez por falta de conhecimento da evolução do pensamento humano a escola religiosa pouco avança neste sentido. Existem registros de homossexualidade desde remotas civilizações. E hoje, em vários países europeus, a união civil de homossexuais já é realidade. Em Buenos Aires, pela primeira vez na América do Sul, os gays também têm direito à união civil. Esta é a tendência de praticamente todos os países ocidentais. E a tendência é que cada vez mais países aprovem igualdade de direitos.

Um recente caso que merece destaque aconteceu com uma faculdade particular em Minas não religiosa. Ela teria vetado a divulgação de um cartaz da 7ª semana Acadêmica do Serviço Social (sob o tema "Fortalecer as lutas sociais para romper com a desigualdade") em que, além de imagens de negros, índios, deficientes físicos e sem-terras, exibia a de duas mulheres se beijando. Segundo alunos e professores, a direção exigiu que a coordenadora retirasse a imagem das duas meninas, ela se recusou e foi demitida. O fato gerou protestos em várias organizações de apoio à diversidade sexual.

Contrários ou não, não há como mais fugir mais desta questão. A mídia, a escola e a família têm papéis fundamentais na construção de valores e de mentes. Se a escola religiosa não se apressar na mudança de valores e na maneira como lida com as diferenças, ela pode passar por uma crise tão grande como a que a Igreja Católica atualmente sofre. Ao se esquivar da nova forma como a sociedade se organiza, ela pode ser acusada de omissão e se perder em valores que o mundo não mais compartilha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário