12.18.2009

Chávez


Hugo Chávez, presidente da Venezuela, durante discurso na COP 15, na Noruega. "Se o clima fosse um grande banco, já o teriam salvado há muito tempo".


O venezuelano sempre me chamou atenção pelos discursos inflamados, pela atitudes radicais, desesperadas e personalistas. Quando estive na Venezuela, logo no aeroporto de Caracas já é possível ler grande, forte, dourado em mármore: "Aqui se construye el socialismo del siglo XXI". Além disso, imagens e figuras do líder se confundem ao trânsito caótico, às favelas e aos pedintes. Os pobres, em geral, estão com Chávez. Os ricos não. Quando cheguei à capital, era época da libertação dos reféns das FARC, que culminou com a libertação da franco-colombiana Ingrid Bittencourt. Pelas ruas, era possível ver muitos cartazes e faixas com a foto do presidente, escrito: "Caracas encende la luz para la paz en Colombia".


À época, ouvia falar muita coisa interessante sobre o governo. Muitos projetos de cooperação e de redução das desigualdades. Provavelmente muito marketing e pouca liberdade de expressão. É que hoje em dia, quando se tem petróleo, vale tudo. Até mesmo abastecer um tanque cheio de gasolina por apenas R$ 0,50, como se vê em todo o país.


No COP 15, Chávez criticou a falta de pulso do presidente Obama e o fracasso das negociações. O que Chávez não citou na Conferência do Clima é que um mundo menos tóxico implica, necessariamente, um planeta com menos uso de petróleo. E isso, na Venezuela, colocaria em cheque o sucesso da dita revolução do presidente.

12.07.2009

Da série: Vaias pra eles (1)



A polêmica enquete do site do Senado Federal, que mobilizou a ala TFP da sociedade (tradição, família e propriedade) e também os ativistas gays e defensores dos direitos humanos, contabilizou quase 500 mil votos em um mês que ficou no ar. A pergunta: "Você é a favor do PLC 122/06, que torna crime o preconceito contra homossexuais?" se tornou correntes de e-mails enviados pelos defensores e contrários à medida. O resultado da enquete, que foi a mais votada do ano, já está disponível no site. Infelizmente, a enquete mostrou o retrato homofóbico da sociedade brasileira. Triste, triste, triste...

12.02.2009

Da série: Palmas pra eles (1)


Em um de seus últimos compromissos no Brasil em novembro deste ano, o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad foi forçado a assistir a um protesto solitário de um ativista gay de Brasília que conseguiu driblar a segurança. A menos de cinco metros do presidente iraniano, Júlio Cardia conseguiu mostrar um cartaz e a bandeira do movimento gay. Ele afirnou: "Não podemos ficar calados diante do massacre aos homossexuais no Irã". Em 2007, quando visitou os EUA, o presidente iraniano havia dito que o homossexualismo é um "fenômeno" que não está presente na sociedade iraniana.

12.01.2009

Ya me voy


No dia 25 deste mês, vou conhecer Cuba, um lugar que há muito queria visitar. A ilha de Fidel é ainda um país que, pelos menos teoricamente, é adepto ao sistema socialista. Criticada por um lado pela falta de liberdade de expressão, de mantimentos e de novas tecnologias, a ilha é reconhecida pela medicina de altíssimo nível, pelo esporte muitas vezes vencedor e pelos baixíssimos índices de analfabetismo. Os que já visitaram Cuba dizem que a sensação é de estar em algum filme passado na década de 1950. Outros dizem que há pobreza, mas não há miséria. O mesmo diziam aqueles que conheceram a extinta União Soviética. Quando fui à Rússia, em 2007, vi que muita coisa havia mudado desta realidade após a queda do regime, em 1989, apesar de ser difícil se desvincular de um sistema que perdurou por tanto tempo em algumas décadas. O socialismo na Rússia não passa de estátuas de Lênin em praças ou de souvenires vendidos em cada esquina. É possível comprar o que restou da revolução de 1917: trajes militares, medalhas, moedas, chapéus com a foice e o martelo, símbolo da luta dos trabalhadores e da sua tomada do poder. Mulheres e homens lindos, extremamente elegantes, se confundiam com os mendigos alcoólatras, ao passo que os antigos Ladas hoje estacionam ao lado de Citröens, Renauts e muitas outras marcas estrangeiras. Apesar de já o ter feito, não defendo a implantação do sistema socialista como solução para os problemas da humanidade. Assim como nos governos capitalistas, as experiências vermelhas também foram recheadas de escândalos velados, corrupção e favorecimento ilícito. O que acho importante ressaltar é que os sistemas político-econômicos existentes no mundo possuem lá suas vantagens e as desvantagens. O capitalismo, sistema predominante e praticamente insustentável, levou ao homem as tecnologias de última geração, a Internet, a globalização e o encurtamento das distâncias. Por outro, a miséria desenfreada, a desigualdade gritante entre os ricos e pobres de um país, ou de países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Por outro lado, o socialismo trouxe uma redução das desigualdades sociais (niveladas, obviamente, para baixo) e acesso aos bens básicos. Mas também trouxe o personalismo (maoísmo, leninismo, stalinismo, castrismo) e as perseguições políticas. Quero muito conhecer Cuba, tentar descobrir o que é e o que não é mito, através do recorte que farei naquela imensa realidade. Talvez voltarei mais confuso frente à complexidade de um sistema social, impossível de se desvendar em apenas 20 dias. Mas sei que alguma percepção nova terei, que vá além de reportagens da Folha de São Paulo ou da Revista Veja. Da mesma forma que vi coisas que considero avanços e coisas que, ao meu ver, são ultrapassadas na Venezuela de Chávez em 2008, quero fazer também algumas observações na ilha. Claro que regadas a salsa, rum e baforadas de charutos.